As substâncias capazes de combater a febre, em geral, agem também contra dores e inflamações. Por isso, ao investigar o baguaçu como antipirético, uma equipe de pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) já aproveitou para testar a atividade analgésica e antinflamatória. E não é que deu certo?
O baguaçu é uma árvore de brejo e mata ciliar, com 10 a 20 metros de altura, tronco reto e copa farta. As flores são grandes, branco-amareladas, polinizadas por besouros. Os frutos são verdes por fora e racham ao amadurecer, expondo bagas vermelhas muito atraentes para as aves.
O nome científico da espécie mudou recentemente de Talauma ovata para Magnolia ovata. Já os nomes comuns variam entre o genérico araticum – usado para diversas espécies – e avaguaçu, bucuibaçu, campina, canela-do-brejo ou pinha-do-brejo. Originalmente, distribuía-se de Goiás até o Rio Grande do Sul, tanto nas terras inundáveis de Cerrado como nas de Mata Atlântica. Mas sua madeira macia, fácil de trabalhar, quase exterminou a espécie em algumas regiões, devido ao corte para uso em caixotaria e devido à ocupação do ambiente onde ela cresce.
“Eu mesma tive dificuldades de encontrar árvores aqui no Paraná para a pesquisa”, conta a química Maria Élida Stefanello, da UFPR. Ela trabalha em parceria com os pesquisadores da UFPR, Aleksander Roberto Zampronio e Cândida Leite Kassuya, além de Marcos José Salvador, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Eles partiram do uso tradicional da casca da árvore contra a febre e fizeram a identificação de diversas substâncias ativas, contando com recursos da própria instituição e, no último ano, de uma parceria com a Fundação Araucária.
“É curioso notar que existem substâncias muito diferentes na casca e nas folhas, por exemplo”, prossegue Élida. E os baguaçus do Cerrado também têm substâncias diversas daqueles da Mata Atlântica, embora a espécie seja a mesma, o que cientificamente é conhecido como quimiotipo.
O extrato da casca de baguaçu foi fracionado e a equipe agora desenvolve estudos paralelos com as várias frações. “Os alcalóides de M. ovata têm potencial para gerar um analgésico bem diferenciado, enquanto as lactonas sesquiterpênicas são mais promissoras como antipiréticas”, explica a pesquisadora. Os compostos das folhas, por outro lado, demonstraram ação antitumoral e também são avaliados separadamente na UFPR.
Para a equipe, as lactonas são as substâncias mais atraentes para um futuro desenvolvimento de produto comercial, embora ainda precisem passar por testes de toxicidade e testes clínicos. Por enquanto apenas alguns ensaios com camundongos e ratos foram realizados. Porém pode-se perceber que sua ação contra a febre é bastante forte mesmo quando usadas pequenas quantidades.
Isso, de certa forma, pode favorecer o uso do produto natural sem promover depredação. Os pedaços de cascas ainda podem ser retirados de galhos, não é preciso explorar apenas o tronco. De qualquer modo, segundo Maria Élida Stefanello, “o baguaçu pode ser plantado, podemos recorrer ao cultivo de células e a novas formas de extração”. A pesquisa sobre os usos da árvore, no seu entender, devem se completar com o trabalho agronômico, de forma a garantir a extração sustentável dos compostos de interesse.
“Esta é uma espécie muito importante para as aves, que consomem seus frutos, e por isso está nas listas de reflorestamentos de matas ciliares, sobretudo na região Sul”, acrescenta a química da UFPR. Os botânicos ainda destacariam o fato de esta ser a única espécie nativa da família das magnólias, ainda encontrada no Brasil. Havia três outras do mesmo gênero, registradas no Século XVIII, mas não se tem mais notícia delas. Restou apenas o baguaçu e, mesmo assim, sob pressão.
Talvez a recomposição das matas ciliares – mais que necessária para a qualidade da água, controle de erosão e numerosos outros motivos – deva começar justamente por esta espécie capaz de mandar a febre, as dores, as inflamações e alguns tumores para o brejo…
Fonte: Blog Biodiversa - Planeta Sustentável
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